quarta-feira, 30 de abril de 2008

Hora do show

" E então um dia uma forte chuva veio
E acabou com o trabalho de um ano inteiro

(...)
agora é só você

E não vai adiantar

Chorar vai me fazer sofrer..."


A chuva chega, pra deixar tudo ainda mais úmido, achando pouco o mofo q já toma conta de tudo. Eu vou pra rua, correndo atrás da minha esperança, sem saber ao certo se o q molha minha face são os pingos de chuva ou as lágrimas... olhos vermelhos, cara inchada, eu paro um pouco pra tentar me recompor, mas a chuva continua a cair e a molhar e se confundir com minha dor estravazada.
O céu tão cinzento, tão pesado, até parece q sente o mesmo q eu. Hoje é um daqueles dias em q tudo o q eu gostaria de ter na minha frente era o fundo da rede.
Lá fora, eu tento esconder minha dor, porque me permitir senti-la em sua real medida, seria me permitir dividi-la, mas essa alternativa eu já descartei.
Prefiro o silêncio das lágrimas guardadas. Prefiro o silêncio, q não me compromete, q não me dói. Em casa, o silêncio me aguarda, para ouvir as lágrimas q eu trago da rua, q eu guardo só pra mim. Elas são só minhas, são uma parte de mim q eu não posso dividir, se dividisse estaria simplificando a dor, tornando-a mais banal, estaria me banalizando.
Lembro de quando eu era criança e tudo o q eu mais queria era q me vissem chorando, para q meu desejo fosse atendido. Só q aí, antes mesmo q eu crescesse, a dor se tornou real e eu tudo o q eu mais queria era não chorar mais. Então, guardei pra mim, se ninguém vê é mais fácil fingir q não existe.
Já cansei de me dizer q o pecado só é real quando eu confesso e, já q ninguém o vê, então não tenho por quê confessar, logo, não há "pecado".




"Faltava abandonar a velha escola
Tomar o mundo feito coca-cola
Fazer da minha vida sempre
O meu passeio público
E ao mesmo tempo fazer dela
O meu caminho só
Único
(...)
Só falta (...) Iluminar a vida
Já que a morte cai do azul (...)
Falta eu acordar
Ser gente grande
Prá poder chorar..."




Tão impressionante o trabalho danado q há até q alguém nasça e, tudo isso, pra quê? Que sentido tem um espermatozóide guerreiro chegar ao fim do túnel, se completar, se transformar, se tornar vida e, mais tarde, se tornar morte?
A vida vem e vai, nos leva sem q a gente perceba, sem q possamos descobrir ao q viemos. De q adianta todo esse espetáculo, se durante todo o show não decoramos nossa fala ou ao menos descobrimos qual o nosso papel?
De repente os aplausos acabam, sem ao menos termos visto a hora em q a cortina baixou, sem a menor reverência, sem nada.
Quando se dá conta, não dá mais tempo de atuar, o show ia acontecendo durante os ensaios. Quanta coisa faltou falar, quantas cenas deixadas pra depois, quanta história cortada...
Eu queria uma segunda chance, sei lá, voltar um pouco a fita, ou algo do tipo. Eu teria dito "eu te amo" mais vezes. Algumas pessoas precisam muito disso e nem ao menos sabem o quanto há tantas pessoas q guardam esse "eu te amo" delas.
Eu teria vivido mais esse "eu te amo" se eu pudesse voltar um pouco às cenas anteriores e contracenar com os personagens q já saíram da história.
Só o q me resta então, é aproveitar à partir de agora, afinal, ainda tem muita cena pela frente, ainda dá tempo de eu conseguir o papel principal e protagonizar minha própria história.

Quando a chuva passar, espero q leve com ela as lágrimas q eu dexei pra trás. A dor eu reinvento, transformo em silêncio. Se ninguém vê, nem ouve, é porque não existe.
Não quero a maquiagem borrada pra hora dos aplausos.

Nenhum comentário: